domingo, 29 de maio de 2016

Como crianças na praça



"A que, pois, compararei os homens da presente geração, e  a que são eles semelhantes? São semelhantes a meninos   que, sentados na praça, gritam uns para os outros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não chorastes" (Lucas 7:31-32).
A ressurreição do filho da viúva de Naim foi um dos mais notáveis milagres de Jesus, mas o relato dele não tinha sido suficiente para acalmar a perplexidade e a dúvida do prisioneiro João Batista. Teria isto que ser o assunto de seu poderoso chamado ao arrependimento da nação antes da iminente chegada do reino do céu? Onde estava o "machado posto na raiz da árvore", o julgamento abrasador sobre os ímpios e a exaltação dos justos? Ele era como um leão enjaulado que, acostumado a perambular livre, estava sendo abatido pelo seu longo confinamento. Os milagres de Jesus, não importa quão maravilhosos fossem, podem agora ter parecido a ele prosaicos em vista das grandes expectativas que sua momentosa proclamação do reino tinha criado, até nele mesmo.
A resposta de Jesus é gentil, mas firme. Ele disse que precisavam reconhecer no que ele fazia —mostrando misericórdia aos oprimidos, pregando o evangelho aos mansos — os sinais proféticos do reino de Deus (Isaías 35:5-6; 61:1 e seguintes) e que não devem ser levados a tropeçar porque o caminho que ele tomou não foi o caminho que eles imaginavam (Lucas 7:18-23). O Senhor então fala às multidões em defesa de João. Não havia nada de brando ou fraco nele. Ele não era nenhum esperto manipulador do sentimento popular. Sua pregação, destemida e resoluta, freqüentemente ia a contrapelo, e ele mesmo viveu em dedicação desconfortável ao seu imensamente significativo apelo. Como o arauto imediato do Messias, ele era "mais do que um profeta" e sua grandeza entre os homens não ultrapassada, mas ele não haveria de ver a chegada do reino que ele tinha tão corajosamente anunciado. Mas o que ele tinha feito foi determinar quem entre o povo estava preparado para recebê-lo e quem não estava, e no processo vergastou a cobertura de pretensões hipócritas dos fariseus. A ilustração de Jesus do vinho novo e dos odres velhos se destinava a responder a acusação que seus discípulos tinham falta de seriedade espiritual porque, diferentes dos fariseus e dos discípulos de João, eles eram dados a alegre festividade antes que a sóbrio jejum. Mas tão logo isso se tornou aparente, fez pouca diferença para os críticos de Jesus se ele festejava ou jejuava. Era o seu próprio caráter e ensinamento que os ofendiam e nenhuma mudança do estilo de vida seria bastante forte para silenciar os incansáveis ataques deles contra tudo o que ele fazia.
A insaciável natureza da oposição dos escribas e fariseus não foi mais dramaticamente revelada do que na resposta deles à pregação de João Batista. Aqui deveria estar o homem dos seus sonhos, abstêmio, solitário e recluso. Mas, ironicamente, eram os mundanos e abertamente religiosos publicanos que enxameavam alegremente para seu batismo, enquanto os fariseus, com sua propalada piedade, recusavam o chamado de João para o arrependimento (Lucas 7:29-30).
Tudo tinha se tornado tão previsível e tão triste. Jesus lhes disse que lhe lembravam crianças na praça, que recusavam qualquer jogo proposto por seus companheiros. Eles se recusaram a brincar de casamento e a brincar de funeral. A descrição deles pelo Senhor não é uma alegoria onde as personagens precisam ser identificadas, mas uma ilustração do tipo de mente que não quer jogar em nenhuma circunstância, contudo continua a justificar a recusa. Não tinha nada a ver como o modo como João pregava ou Jesus vivia, era a mensagem deles de humilde arrependimento que era inaceitável para os convencidos fariseus e não estavam aceitando nada dela, não importa como viesse embrulhada. Eles falavam com tanta confiança do julgamento justo de Deus, mas quando João veio e pregou-o e os chamou ao arrependimento, eles o rejeitaram. Eles falavam ansiosamente do Messias, mas quando ele chegou, em vez de regozijar, eles cavilaram e criticaram. O Batista, para eles, era um azedo "Joãozinho de uma nota só" com febre cerebral. Tudo o que ele sabia era "arrependei-vos, arrependei-vos, arrependei-vos". E com Jesus era alegria demais e perdão, confraternização fácil demais com a ralé (Lucas 7:33-34). Assim, completaram a loucura de seus pais, que piedosamente pediram a Deus pela libertação do Egito, mas quando sua libertação apareceu, eles não gostaram dela. Como crianças petulantes, eles clamaram a Deus, mas quando ele veio, eles não o quiseram.
Estamos nós, também, fazendo o jogo de Deus? Fazemos muita declaração de desejarmo-lo em nossas vidas, mas desaprovamos, criticamos e queixamos quando alguém nos fala de suas exigências? E cobrimos nossa rejeição de sua vontade com queixas sobre como foi dito, ou porque foi dito, ou quem o disse? Homens verdadeiros e mulheres de Deus podem aprender a vontade do seu Salvador até mesmo com seus piores inimigos! Há muitos cristãos que ainda estão brincando como crianças na praça. Eles não são sérios. Revertendo a advertência de Paulo aos Coríntios (1 Coríntios 14:20), em entendimento eles são como crianças estragadas, mas em malícia, ciúme e rivalidade eles têm profunda experiência. Em face da penetrante mensagem do evangelho, eles não se afligirão pelos seus pecados nem regozijarão na maravilhosa bondade de Deus. Em vez de justificar Deus, eles se justificam a si mesmos e assim revelam, como fizeram aqueles velhos queixosos, impertinentes egoístas, que eles não são filhos da sabedoria, mas os deformados descendentes da consumada estupidez (Lucas 7:35).

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